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10/19/2007
Caldeirada
Alberto Janes (1977)
Em vésperas de caldeirada o outro dia
Já que o peixe estava todo reunido
Teve o goraz a ideia de falar à assembleia
No que foi muito aplaudido
Camaradas principia a ordem do dia
É tudo aquilo que for poluição
Porque o homem que é um tipo cabeçudo
Resolveu destruir tudo pois então
E com tal habilidade e intensidade
Nas fulguranças do génio
Que transforma a água pura numa espécie de mistura
Que nem tem oxigénio
E diz ele que é o rei da criação
As coisas que a gente lhe ouve e tem que ser
Mas a minha opinião, diz o pargo capatão,
Gostava de lha dizer.
Pois se a gente até se afoga,
Grita a boga, por o homem ter estragado o ambiente.
Dar cabo da criação, esse pimpão,
E isso não é decente!
Diz do seu lugar tá mal o carapau
Porque por estes caminhos
Certo vamos mais ou menos ficando todos pequenos
Assim como “jaquinzinhos”
Diz então o camarão a certa altura
Mas o que é que nós ganhamos por falar?
Ó seu grande camarão, pergunta então o cação
Você nem quer refilar?
Se quer morrer, diz a lula toda fula
Com a mania da cerveja nos cafézes
Morra lá à sua vontade que assim seja
Para agradar aos fregueses
Diz nessa altura a sardinha p'rá taínha
Sabe a última do dia? A pescadinha já louca
Meteu o rabo na boca
O que é uma porcaria!
Peço a palavra- gritou o caranguejo-
Eu que tenho por mania observar,
Tenho estudado a questão e vejo a poluição
Dia e noite a aumentar.
Cai do céu a água pura
E a criatura pensa que aquilo que é dele, é monopólio.
Vai a gente beber dela e a goela
Fica cheia de petróleo!
A terra e o mar são para o cidadão
Assim como o seu palácio
Se um dia lhe deito o dente
Pago tudo de repente ou eu não seja crustáceo!
É um tipo irresponsável grita o sável
O homem que tal aquele
Vai a proposta p'rá mesa ou respeita a natureza
Ou vamos todos a ele!
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