12/22/2008

Destino de peixe

Descobri hoje o livro "Destino de peixe", de Isabelle Lebastard (poemas) e Brigitte d’Ozouville (fotografias), de onde transcrevo:


Palavra de Peixe

Nunca vou desistir da vida

Mesmo se à frente os atuns
arregalam os olhos

Mesmo se atrás
abrem as bocas dos tubarões

Nunca vou desistir da esperança

Mesmo se a bombordo
arrastam malhas e redes

Mesmo se a estibordo
abanam iscas e anzóis

Decidi nunca desistir do desejo

De mergulhar nas águas frescas
de saltar nas ondas espumantes

Mesmo aqui
no fundo deste barco de pescador
de regresso ao porto
da minha última escala.




Queria pôr aqui a ligação, mas o livro não está listado no site da Editora, a Livros Horizonte... Mas pode ler-se o prefácio de Mário Ruivo no Barramar.

9/18/2008

Cognição em peixes

Cognitive research can benefit from future fish studies in three ways: first, as fish are highly variable in their ecology, they can be used to determine the specific ecological factors that select for
the evolution of specific cognitive abilities. Second, for the same reason they can be used to investigate the link between cognitive abilities and the enlargement of specific brain areas. Third, decision rules used by fish could be used as ‘null-hypotheses’ for primatologists looking at how monkeys might make their decisions.

Bshary et al., 2002. Fish cognition: a primate’s eye view. Animal Cognition 5 (1): 1-13

6/11/2008

Peixes e qualidade de água

No âmbito da Directiva Quadro da Água é necessário avaliar e monitorizar o estado ecológico das massas de água, constituindo os peixes um dos grupos indicadores para as massas de água doce e de transição.

O trabalho a este nível está muito atrasado, e o que existe tem sido desenvolvido para rios. Já temos (desde Janeiro) um protocolo de amostragem, valha-nos isso, mas há muito trabalho a fazer na elaboração de índices de qualidade a partir da informação recolhida.

Existem actualmente quatro índices de qualidade baseados em peixes:

  • IBI (Index of Biotic Integrity), de Karr et al., 1986- desenvolvido e usado sobretudo nos Estados Unidos
  • IBICAT, de Sosta et al., 2003- desenvolvido para a Catalunha (v. tb. Benejam, 2008)
  • FBI, de Oberdoff et al., 2002- desenvolvido para França
  • EFAI, de Pont et al., 2006, em desenvolvimento para toda a Europa.

L. Benejam, E. Aparicio, M. J. Vargas, A. Vila-Gispert and E. García-Berthou, 2008. Assessing fish metrics and biotic indices in a Mediterranean stream: effects of uncertain native status of fish. Hydrobiologia 603:197–210

Karr J. R., K. D. Fausch, P. L. Angermeier, P. R. Yant & I. J. Schlosser, 1986. Assessing Biological Integrity in Running Waters: A Method and its Rationale. Illinois Natural History Survey, Champaign, Illinois.

Oberdorff, T., D. Pont, B. Hugueny & J. P. Porcher, 2002. Development and validation of a fish-based index for the assessment of rivers ‘health’ in France. Freshwater Biology 47: 1720–1735.

Pont, D., B. Hugueny, U. Beier, D. Goffaux, A. Melcher, R. Noble, C. Rogers, N. Roset & S. Schmutz, 2006. Assessing river biotic condition at a continental scale: a European approach using functional metrics and fish assemblages. Journal of Applied Ecology 43: 70–80.

Sostoa, A., N. Caiola, D. Vinyoles, S. Sanchez & C. Franch, 2003. Development of a biotic integrity index (IBICAT) based on the use of fish as indicators of the environmental
quality of the rivers of Catalonia. (In Catalan). Report to the Catalan Water Agency, Barcelona. [available on-line at: http://www.gencat.net/aca/en//planificacio/directiva/treballs.jsp#C].

6/09/2008

Capital natural e capital construído

Parece óbvio, não é?

O que não é óbvio é a ilustração provir de um artigo de um (arrgg!) economista, Herman Daly, num artigo publicado no Scientific American:
Most contemporary economists do not agree that the U.S. economy and others are heading into uneconomic growth. They largely ignore the issue of sustainability and trust that because we have come so far with growth, we can keep on going ad infinitum.
[...]But the facts are plain and uncontestable: the biosphere is finite, nongrowing, closed (except for the constant input of solar energy), and constrained by the laws of thermodynamics. Any subsystem, such as the economy, must at some point cease growing and adapt itself to a
dynamic equilibrium, something like a steady state. Birth rates must equal death rates, and production rates of commodities must equal depreciation rates.
Vale a pena ler o resto do artigo e, já agora, os restantes do mesmo autor.

5/31/2008

Materpiscis attenboroughi

Leio hoje no Açoriano Oriental uma notícia: "Descoberta a mais antiga mãe do mundo... um peixe". Não deixa de ser interessante ver uma notícia sobre evolução de peixes num jornal local, ainda para mais tendo sido publicada apenas ontem na Nature. Outro aspecto interessante é o da publicação ter sido orquestrada para coincidir com a abertura da respectiva exposição no Museum Victoria, em Melbourne, para a qual foi criado este vídeo:

Mother Fish Animation


Ora, que havia peixes mães não é novidade para muitas pessoas: muitos tubarões são vivíparos, como se pode ver neste excelente vídeo. O que já menos pessoas sabem é que os tubarões terão surgido pouco depois dos placodermes (de que o Materpiscis é um exemplo). São um grupo-irmão, na gíria cladística:
Materpiscis está datado de há 380 milhões de anos, mas existe um fóssil intacto de tubarão com 409 milhões de anos. Ou seja, quando este animal específico morreu nadavam tubarões no mar há muuuuuuito tempo. De facto, ambos este fósseis são do Devónico, a Idade dos Peixes, quando se pensa que a separação entre placodermes e elasmobrânquios se deu no início do Silúrico.

O que significa então ser a mais antiga mãe do mundo? Apenas que este é o registo de viviparidade mais antigo que se conhece.

Mas deixa-me a pensar que pode ter acontecido que descendamos de um ancestral vivíparo, que perdeu essa capacidade na cisão dos peixes ósseos, apenas para a re-ganhar com a passagem para o meio terrestre, através do longo processo cujas etapas são ainda hoje visível nos anfíbios, répteis, monotrématos e marsupiais. Mas talvez não: afinal a viviparidade evoluiu pelo menos 42 vezes em 5 dos 9 principais grupos de peixes...

4/28/2008

Ichthus


Crusaders, 14"x29", © 2006 Kush Fine Art

Esta pintura de Vladimir Kush veio lembrar-me que os primeiros cristãos usavam a imagem do peixe para se identificarem porque a palavra grega para peixe podia ser considerada um acrónimo de "Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador".


Mais tristemente, a pintura lembra igualmente o sangue inocente vertido em nome desse mesmo Jesus, quer durante as cruzadas quer em tempos bem recentes...

4/15/2008

Historiae Naturalis De Piscibus Et Cetis


Jan Jonston (1603-1675)
foi um intelectual e médico polaco de origem escocesa. Publicou uma Historiae Naturalis em vários volumes, dos quais o V é dedicado aos peixes e aos cetáceos.

Esta preciosidade está disponível na internet, e faz-me lamentar a minha dificuldade em ler latim. Mas podem ver-se os desenhos, espectaculares como o que escolhi para ilustrar esta entrada. Mas estranho mesmo são, no capítulo De aliquot aliis, & inter hos monstrosis piscibus (De vários outros e entre estes peixes monstruosos? cruzando a tradução automática com o dicionário...), os Anthropomorphos.
Se um dia aprender latim, virei aqui ler como se encarava no séc. XVII a relação entre os peixes e os cetáceos...

4/10/2008

Ichthyo-humour


"The Near Side", uma colecção de cartoons ictiológicos do laboratório de Timothy C. Tricas, na Universidade do Hawaii.

1/09/2008

Les bêtes de la mer


Henri Matisse, Beasts of the Sea, 1950, colagem de papel em tela.

1/01/2008

The Raw Shark Texts


"The Ludovician fish is a predator, a shark. It feeds on human memories and the intrinsic sense of self. Ludovicians are solitary, fiercely territorial and methodical hunters. A Ludovician might select an individual human being as its prey animal, and pursue and feed on that individual over the course of years, until that victim's memory and identity have been completely consumed. Sometimes, the target's body survives this ordeal and may go on to live a second twilight life after the original self and memories have been taken. In time, such a person may establish a 'bolt on' identity of their own, but the Ludovician will eventually catch the scent of this and return to complete its kill."


Um livro estranho, sobre um tubarão metafísico, que se alimenta da memória e da identidade das pessoas. Hum...

Mas é simpático o autor incluir na sua página do MySpace referências aos problemas de conservação dos tubarões.